sexta-feira, 12 de julho de 2013

Psicodelia da noite passada

Era noite, mas também era dia.
Havia uma menina chamada Natureza.
Não por metáforas, era esse mesmo.
Ela lia um livro de capa amarela.

Eu corria de uma avião que voava baixo.
Baixinho.
Soltava um líquido.
Me apavorei. Corri. Meu pai que mandou.

A esquina chegou, Natureza tombou.
O buraco na sua frente ela não viu.
Imersa nas letras do tal livro amarelo.
Ela andava de bicicleta. Também.

Um mar de areia tampou Natureza.
Até então, eu não sabia seu nome.
Ela ainda falava. Mesmo de baixo da terra.
Então eu perguntei: "Qual seu nome?"
"Natureza", disse ela, cujo o rosto eu já não via.

Chamei os bombeiros, e sentei do lado dela.
Ela não estava lá, mas estava.
Minha mãe gritou meu nome. Eu corri de novo.
Tomei água e voltei.

Berrei com minha mãe.
Só queria ajudar a pobre garota enterrada.
Ela pareceu não entender. Mas meu pai entendeu.
Eu voltei, mas os bombeiros foram embora.
Eles vieram e voltaram.

Chamei uma ambulância. Eles vieram e tiraram.
Quem saiu de dentro não foi Natureza.
Foi outra mulher. Não é metáfora, era outra mulher mesmo.
Ela me pediu onze reais.

Ai eu desmaiei.
Salvei a vida, gritei com minha mãe e corri de um avião.
Mas onze reais é de mais.
Eu desmaiei mesmo.




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